Transbordei!

Criei este blog logo após a morte de Fernando Villela(Mineiro, FerVil), que foi uma das pessoas mais especiais em minha vida. Minha mente, meu coração e minha alma estão repletos de sentimentos confusos, sufocantes, e lembranças maravilhosas de meu querido amigo. Senti a necessidade de colocar pra fora, compartilhar, registrar e achei que a criação de um blog teria tudo a ver com ele. Transbordei!

terça-feira, agosto 03, 2004

A missa de sétimo dia

Nossa, como a missa do Rio foi linda! Quanta gente, quantos amigos, quanta energia unida vibrando harmoniosamente numa mensagem de saudade e paz. Dá pra enxergar o Fernando nitidamente em seu pai, sua mãe e suas irmãs. Todos têm a mesma doçura no sorriso e no olhar. Impossível não se comover.

As orações, a leitura dos últimos textos de FerVil, a mensagem escrita e lida por seu amigo Marcelo foram de tirar o fôlego.

"Senhor,
Fazei-me um instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvida, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz!
Ó Mestre,
Fazei-me que eu procure mais
Consolar, que ser consolado.
Compreender, que ser compreendido.
Amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna!"

(Oração de São Francisco de Assis)


A VIDA RENOVADA NÃO TEM LIMITES! (FerVil)

Luto real, luto virtual

Hoje saiu mais uma matéria falando do Mineiro (FerVil). Esta é de Paulo Roberto Pires e saiu no site www.nominimo.ibest.com.br

Terça-feira, 03 de agosto de 2004

Luto real, luto virtual

Fernando Villela tinha 30 anos, carreira sólida no jornalismo virtual e literalmente um mundo de amigos. Não o conheci mas, como todo jornalista que um dia trabalhou na Internet e tem amigos neste meio, já havia me deparado com seu apelido, quase sigla, FerVil, referência obrigatória de um dos pioneiros da Internet no Brasil. No dia 26 de julho, FerVil foi assassinado ao tentar escapar de um assalto no Santo Cristo, Rio de Janeiro. Simples assim, não estivesse a dor de seus amigos transformando-se numa poderosa manifestação de solidariedade que se multiplica justamente no espaço virtual que foi seu campo de trabalho e motivo de inquietação.

Muito se critica a exposição da vida na web, em blogs, fotologs, sites pessoais, orkut. Mas só quando a morte invade violentamente este espaço pode-se refletir sobre como, mais do que um palco de egotrips, o espaço virtual pode ser um sólido prolongamento dos espaços públicos e, por que não, uma forma bem conseqüente de expressão pessoal.

Às 3h08m do dia 26, FerVil botou no ar o que seria o último post de seu blog (http://fervil.blogspot.com), comentário divertido sobre um grupo de ufólogos brasileiros que reivindica acesso irrestrito a todas as informações sobre a suposta presença de UFOs no espaço aéreo brasileiro. Até a noite de domingo, o post tinha reunido 87 comentários, todos eles manifestações de solidariedade à família, declarações de repúdio à violência ou mensagens diretas a FerVil, como se ele ainda as pudesse ler.

Muitos dos membros do Orkut substituíram as fotos de suas páginas pessoais por um retângulo negro, com “Fervil” escrito em branco, como numa bandeira.

Todos eles e muitos outros fazem parte dos mais de 200 internautas reunidos na comunidade “FervilVive”, criada no Orkut exclusivamente para tornar-se fórum de debates e transformar a dor em algum tipo de ação ou intervenção que singularizem mais este estúpido assassinato da vala comum das estatísticas que tornaram-se rotina sob o jugo do xerife Bolinha.

Se é verdade que, como cantou Chico Buarque, “a dor da gente não sai no jornal”, na Internet ela sai, sim, com uma verdade acachapante. Pois o que chama a atenção nesta comunidade é que não há separação possível entre uma postura “pública”e “privada” de cada um dos membros. Há as ponderações estritamente racionais do debate público, cidadãos brasileiros (que vivem ou não no Brasil) indignados com a violência e, também, manifestações de puro afeto, que mobilizam-se sem, no entanto, preocupar-se em “equilibrar” o choque com a perda de um amigo.

A página pessoal de FerVil no Orkut continua ativa e lá podem-se ler mensagens dirigidas diretamente a ele, estritamente pessoais, mas, ali postas, transformadas em documentos desta barbárie que, cada vez mais, naturaliza-se no cotidiano. Nos 224 comentários que estão no ar é possível reconstituir, como em nenhum outro meio de comunicação, a verdade mais essencial de uma perda, o que querem dizer, exatamente, os números ou as notinhas que alimentam diariamente os noticiários.

A disposição dos que estão engajados para que a morte de FerVil transforme-se em algo além do luto pessoal está no manifesto que aqui republico e que tem tudo para alastrar-se pelo mundo virtual e ter conseqüências bem precisas na vida real, demasiadamente real:

“Em 1998, a estudante Ana Carolina foi morta em uma tentativa de assalto na saída do Túnel Santa Bárbara, em Laranjeiras. Ela tentou escapar ao ser abordada pelos bandidos e, ao acelerar, foi atingida pelos tiros. O crime chocou os cariocas e até hoje é lembrado como um triste capítulo na história de violência da cidade. Na última segunda-feira, a vida de Fernando Villela, nosso querido FerVil, foi friamente interrompida pouco antes do Túnel Santa Bárbara. A tragédia se repetiu. O que mudou foi a repercussão. A brutalidade, que marcará para sempre a vida da família e dos amigos de FerVil, já não causa o mesmo impacto. O carioca está sendo anestesiado pela violência que assola a cidade. Não houve pausa, minuto de silêncio. No dia seguinte, a guerra civil carioca fez mais uma vítima. E depois outra... Quatro mortes em uma semana, como noticiaram os jornais. Algo está errado. É preciso parar. Refletir. Já temos vítimas suficientes. FerVil inspirava os que estavam ao seu lado. Era batalhador, doce, espirituoso, sonhador e "fervilhante", como por muitos era chamado. Tinha uma legião de amigos. Não é justo que ele se transforme em um número a mais nas estatísticas de violência do Rio. Nosso grito é necessário, não pode ser calado. Nossa revolta tem que ser diária, nossa indignação não pode ser anestesiada. Em um ano de eleições, essa tragédia deve servir de alerta.”