Transbordei!

Criei este blog logo após a morte de Fernando Villela(Mineiro, FerVil), que foi uma das pessoas mais especiais em minha vida. Minha mente, meu coração e minha alma estão repletos de sentimentos confusos, sufocantes, e lembranças maravilhosas de meu querido amigo. Senti a necessidade de colocar pra fora, compartilhar, registrar e achei que a criação de um blog teria tudo a ver com ele. Transbordei!

terça-feira, setembro 28, 2004

Lembranças do Fernando - por Yami Trequesser

Recebi ontem este texto da Yami, figurinha ímpar, especial, inteligente, produtiva e inquieta como o Fernando. Yami foi amor verdadeiro na vida do Fernando e nada melhor que um texto com lembranças dela para homenageá-lo nestes 2 meses que se completaram em 26/09 desde sua passagem. Yami, que Deus e Fernando te iluminem!

Lembranças do Fernando

Me vem lembranças na cabeça (e são muitas), o coração fica apertado, da vontade de chorar. Ainda dói muito. Já se foram 2 meses sem o Fernando. Nunca, desde que nos conhecemos há 6 anos, fiquei tanto tempo sem falar com ele.

Conheci o Fernando por acaso. Eu trabalhava na Secretaria de Cultura, como estagiária, e estava querendo mudar de emprego, isso foi la em 1997. Meu pai chegou um dia em casa com uma revista chamada Internet.br nas maos, dizendo que era muito boa e que eu deveria mandar um email pra lá. Quem sabe eles nao tinham um emprego pra mim. ‘Ah, Pai, fala sério’, respondi.

Adolescente boba, na epoca tinha 18 anos, não queria admitir que eu achava que ele tinha razão. Escondidinha mandei um email pro editor da tal revista. Quatro longos meses se passaram, até que o rapaz me respondeu. Foi muito simpático, agradecendo meu interesse, pediu que eu ligasse pra ele e no final da mensagem teve a cara de pau de perguntar se eu era menino ou menina, por causa do meu nome. Esse foi o meu primeiro contato com o Fernando.

Algumas semanas se passaram até que criei coragem e liguei pra ele. Eu, muito sem graca de estar ali pedindo emprego pelo telefone. Ele, do outro lado da linha, parecia muito simpático e interessado no que eu tinha a dizer.

Marcamos uma entrevista no escritório da revista, que ficava exatamente no meio da favela Nova Holanda, ali na Avenida Brasil. Eu não tinha noção do que era ICQ e queria trabalhar numa revista de tecnologia. Antes da entrevista, li todos os exemplares da Internet.br que tinha na minha casa para estar bem preparada.

Cheguei na redação e não acreditei quando vi que o editor da revista era um guri de uns 20 e poucos anos! Sentei ali na frente dele e não gostei muito do perfil do rapaz. Ele era baixinho, usava uma camisa aberta no estilo bicheiro e um cordão pendurado no peito. Mas apesar do visual, emanava uma energia sensacional. Achei que ele também tinha me achado legal, pois me ofereceu o emprego.

Foram 4 meses trabalhando na Internet.br com o Fernando e a Jaqueline Pedreira. Era um fenômeno único ver os dois criando a revista. Foi ali que comecei a gostar do Fernando. Eu sabia que ele tinha namorada e, por isso, não me arriscava chegar perto dele e contar o que eu sentia.

Ele pediu demissão da revista e foi para o Cadê?, me carregando junto. E foi ali que tudo aconteceu. Ele ficou solteiro e um dia saimos para tomar um chopp no Humaitá. Na saida, entramos no carro e ele segurou a minha mão. Eu gelei, nos beijamos e eu nunca senti emoção tão forte quanto aquela. Era amor. Puro, verdadeiro e intenso.

Não nos separamos mais. Ele foi morar em Sao Paulo. Um mês depois eu fui também. Viajamos para Buenos Aires, Fernando de Noronha, Paris, pra fazenda dos pais dele (diversas vezes), Chapada dos Veadeiros, Brasília, Friburgo, Iguaba, Maresias, Recife. Viajávamos em nossos próprios sonhos, em pensamentos, em loucuras, delírios, voltávamos a realidade, ficávamos cansados e partíamos para o mundo dos sonhos novamente. Eu viajava nas histórias fantásticas, que Fernando adorava contar, e nos mundos sensacionais que existiam dentro dele. Adorávamos andar pela Orla do Rio (de Copacabana até o Leblon) e nem por 1 segundo ficávamos quietos. A nossa troca de idéias e pensamentos aconteciam em fina sintonia.

A admiração, o amor e carinho que sentíamos um pelo outro era muito forte e só crescia. Em Junho de 2002 voltei para o Rio e Fernando ficou em São Paulo. Foi um momento difícil pra ele, que não gostava de ficar sozinho. Eu ia visitá-lo sempre que possível, ele vinha com boa frequência. Eu perdi meu emprego e senti que era hora de morar fora, sonho que guardei comigo a vida inteira. Sei que machuquei o Fernando com essa decisão. Queria que ele viesse comigo, mas não era o momento certo, a carreira dele estava fervilhante como nunca.

Embarquei pra Londres em Setembro de 2002. Foram longos meses sem vê-lo, mas sempre falando ao telefone, mandando emails, mensagens de celular. Eu fui ao Brasil em Dezembro 2002. Fernando foi me visitar em Marco de 2003. Terminamos o namoro em Junho 2003.

A nossa relação não terminou porque o amor acabou. Terminou porque eu descobri que o Rio de Janeiro e o Brasil tinham ficado pequeno pra mim. Eu queria ver o mundo, viajar, conhecer pessoas, crescer pessoal e profissionalmente. Sofri com a minha escolha, pois ainda amava o Fernando. Sofri mais ainda, pois sabia que ele me amava também. Chorei e fiz ele chorar.

Todas essas sensações e lembranças estão ainda rodando na minha cabeca desde o dia em que ele se foi. Estou frequentando reuniões espíritas. Não consigo superar essa história. Minha mente orgânica não consegue entender o por quê. Ele acabou a missão dele na Terra? Por quê? Por quê? Por quê?

Tive somente um sonho com o Fernando. Foi longo e eu acordei assustada, pois foi muito real. Ele me ligava do celular de algum lugar da Ásia. O número do celular dele era longo e eu não conseguia anotar. Ele me dizia que estava bem. Perguntei se eu poderia contactá-lo. Ele disse entraria em contato, quando pudesse. Espero que ele entre mesmo, pois estou com muita saudade dele.

Yami Trequesser - 27/09/2004


Fernando e Yami