Webwriting e "Tecendo a Teia"
Por Fernando Villela*
Com a velocidade que as novas tecnologias chegam, o profissional da era digital precisa estar em constante upgrade para se adaptar ao mercado de trabalho, e aproveitar assim as inúmeras oportunidades que vão aparecendo. Mas a tarefa não é fácil.
Por isso mesmo, aviso logo: você não irá se deparar nas próximas páginas com uma cópia impressa do mapa do tesouro, ou seja, com uma receita de bolo ensinando “como escrever para Internet em 20 minutos”. Se pensou nisso.... Antes de tudo, muito cuidado nessa hora! Porque as novidades, por outro lado, também são prato cheio para as ilusões - criadas sem preocupação pelos oportunistas de plantão! ;-)
Quando nasce uma nova mídia, em um primeiro momento, o conteúdo nela veiculado é diretamente recauchutado de outro meio já existente. Com o amadurecimento da nova mídia, o conteúdo produzido sob demanda para ela torna-se uma estratégica vantagem competitiva. Tal conteúdo, perfeitamente adequado ao formato do novo meio, passa a explorar melhor às suas características, se integra com mais intimidade ao seu comportamento, tirando dessa forma o máximo de proveito das suas potencialidades próprias.
E então, para suprir a necessidade de se pensar o texto e produzir conteúdo em sintonia perfeita com o mundo online, surge uma nova profissão: o webwriter.
O objetivo proposto por Bruno Rodrigues no livro que você tem em mãos é servir como uma bússola para orientar o webwriter, preparando o novo profissional com a competência necessária no dia-a-dia e, principalmente, alertando quanto ao capricho que se deve ter na produção de conteúdo sob medida para a internet.
O texto na Rede é solto e descontraído, muitas vezes informal e intimista. Porém, precisa disfarçar uma pitada de marketing, para convencer o internauta no prosseguimento da leitura. Parece besteira, mas é valiosa na internet essa sutil provocação para continuamente cativar a atenção do leitor – disputada por banners apelativos, efeitos multimídia e a possibilidade dele ir para bem longe do texto com o esforço descomunal do simples “clique” em um hiperlink.
Afinal, dizem por aí que na Web o leitor não lê, escaneia. Desfila saltitante a visão de um lado para o outro, circula entre inúmeras páginas, sobe e desce a tela do browser distraído, enquanto as imagens vão carregando. O sujeito mal reflete sobre o que acabou de ver e com a mão nervosa – e o cérebro atiçado – clica, clica e clica, buscando muitas vezes encontrar o “quê” (?), nem ele sabe exatamente. Percebemos assim como é um imenso desafio, no meio dessa profusão de dispersões, atrair a atenção do internauta, fisgar o peixe. Webwriting se propõe a mostrar algumas iscas e, inclusive, deixar claro para o profissional a importância delas.
A rede, entretanto, ainda evoluirá bastante. O conteúdo no mundo online, em conseqüência disso, também sofrerá impacto, acompanhando de alguma forma o processo natural de desenvolvimento da mídia. Muito em breve, por exemplo, a internet como conhecemos se desdobrará com a explosão do universo wireless (internet móvel, sem fio, como nos telefones celulares e palmtops) e da banda larga (acesso à rede em alta velocidade, com multimídia em abundância).
A necessidade de se pensar o texto para a nova mídia digital continuará sempre existindo – logicamente, cada vez com mais relevância. A internet sairá dos desktops e estará viva em múltiplos aparelhos, aparecendo no cotidiano sob diversas manifestações. Ao webwriter, cabe a nobre missão de moldar o texto para que ele seja apetitoso em qualquer ambiente aonde os bits se fizerem presentes.
Suprindo a inexplicável carência de referências no segmento, Webwriting reúne uma valiosa coleção de informações, dicas, procedimentos, insights e questionamentos fundamentais para você seguir com firmeza a sua própria trilha na criação de textos para rede. O livro se impõe, com sua qualidade e pioneirismo, como uma leitura indispensável para estudantes de comunicação, jornalistas, publicitários e profissionais de conteúdo na internet.
Tão importante quanto o conjunto de tópicos aqui organizados por Bruno Rodrigues, é a mensagem geral que, como um todo, a obra deixa: a construção no profissional da percepção plena, sempre alerta, sobre o formato do texto no meio digital. A atenção para um cuidado mais do que especial na perfeita adequação do conteúdo para a mídia interativa digital.
Ps: Ítalo Calvino em "Seis Propostas para o Próximo Milênio" conseguiu antever com precisão as tendências da escrita no futuro. O italiano certamente não pensou em Internet quando escreveu o tratado, mas durante a leitura da sua obra torna-se inevitável, na cabeça de quem lê, o cruzamento entre os dois universos. A coincidência da visão holística de Calvino com os conceitos básicos do Webwriting é, no mínimo, bastante curiosa.
As seis propostas: Leveza, Rapidez, Exatidão, Visibilidade, Multiplicidade e, enfim, Consistência. Ítalo Calvino infelizmente morreu antes de escrever essa última proposta - que, com certeza, também precisa ser melhor explorada na internet. ;-) Fica aí, para aqueles que gostam de mergulhar fundo, uma excelente dica de leitura complementar às páginas seguintes.
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