Transbordei!

Criei este blog logo após a morte de Fernando Villela(Mineiro, FerVil), que foi uma das pessoas mais especiais em minha vida. Minha mente, meu coração e minha alma estão repletos de sentimentos confusos, sufocantes, e lembranças maravilhosas de meu querido amigo. Senti a necessidade de colocar pra fora, compartilhar, registrar e achei que a criação de um blog teria tudo a ver com ele. Transbordei!

domingo, agosto 01, 2004

Meu celular não apita mais

Exatamente às 14h42min do dia 29 de julho meu celular apitou avisando que tinha chegado uma mensagem de texto. Gelei! Num impulso imediato peguei o aparelho para ler. "Cliente Vivo Vantagens tem 15% de desconto...". Caralh...! Que tristeza! Me dei conta de que não receberia mais torpedos do Mineiro.

A caixa de entrada do meu celular está repleta deles. Ele sempre arrumava um jeito de se fazer presente, de demonstrar seu carinho. Tem gente que diz que a tecnologia é fria, que um e-mail não substitui um abraço, um beijo, palavras ditas olho no olho. Eu só sei que eu ganhava o dia quando recebia um torpedo ou um e-mail pessoal dele. Aquilo dizia que o meu amigo tão especial, tão requisitado, tão atarefado, lembrou de mim naquele momento e fez questão de me dizer. A última mensagem que recebi dele foi enviada alguns dias antes de sua trágica morte:
"Tô muito feliz porque vou te ver hoje. Morrendo de saudades... Beijo gostoso, Fernando". Este foi seu último torpedo pra mim. Esta foi a última vez que nos encontramos.

Meu celular vivia apitando. Me celular não apita mais...

A despedida

No dia seguinte de sua morte, Bruno Rodrigues escreveu um texto em homenagem a FerVil no site Webinsider.

Eu e Fernando fizemos juntos o curso de Webwriting do Bruno que começou em maio, o que fez com que nós nos encontrássemos pelo menos uma vez por semana durante 5 semanas seguidas. Este período foi maravilhoso, pois saíamos da aula do Bruno e íamos tomar um chopp em algum lugar para relaxar e jogar conversa fora. Conversávamos sobre os mais diferentes assuntos: projetos de vida, trabalho, viagens, casa nova, relacionamentos, kempô, yoga, pilates, mapa astral, amizade... A cabeça do Mineiro era uma caixinha de surpresas sem fundo. E era ótimo ouvir sua opinião sobre as "minhas paranóias", ele me encorajava a seguir em frente e, depois de cada conversa que eu tinha com ele eu saía mais auto-confiante. Se eu falasse "não sei se vou conseguir", ele dizia "Cris, eu acredito em você!", ou se eu estivesse me sentindo feia, gorda e comentasse "Pô, preciso fazer uma dieta urgente!" (paranóia de mulher!), ele dizia "Fala sério, Cris! Vc é mó gata! Tá de sacanagem, né? Mas não vou ficar falando muito não se não vc vai ficar convencida!". E eu voltava pra casa com meu ego lá em cima...

Num dia desses, após estas conversas com ele, eu cheguei em casa com a cabeça a mil. Cara, quantas idéias, quanta coisa que eu quero fazer! Tudo ao mesmo tempo agora! E aí pensei: "Tô parecendo o Mineiro. Será que isso pega?".

Quando acabou o curso continuamos nos encontrando com mais frequencia. Dizíamos um ao outro que nos acostumamos a nos encontrar pelo menos uma vez por semana. Não consigo deixar de pensar que Deus me deu uma oportunidade de me despedir do meu especial amigo, pois, por tê-lo encontrado tanto desde maio até o dia de sua morte, não fiquei com a sensação de que faltou algo a dizer pra ele. O carinho que a gente tinha/tem um pelo outro nós sempre deixamos bem claro um ao outro. Em gestos e palavras. E isso ninguém vai poder tirar de mim.

Texto do Bruno:
27/07/2004 11:26

FerVil se foi

Perdemos Fernando Villela, ele que nos deu tanto.


Eu estava com meu filho no colo, fazendo hora em frente a um jornaleiro. Era 1996, e a edição da ‘Revista da internet.br’ olhava para mim, apenas esperando que eu a comprasse. E lá estava o Fernando, posando para a foto do editorial que ele assinava como editor da primeira publicação brasileira sobre internet.

De lá pra cá, FerVil acompanhou minha vida, e eu a dele, em alguns momentos à distância, em outros bem de perto. Estive com ele há poucos dias, no grupo de estudos de webwriting. Ele havia aceito o convite para participar, e em nossa última troca de e-mails, eu pedia: “não some, cara, eu sinto falta de você, e toda a nossa área carece de sua inteligência”. O Fernando brincou: “Não se preocupe, não, Bruno – ressuscitei de vez”.

Quando lancei meu livro, pedi que o Fervil escrevesse o prefácio. Só podia ser ele, mais ninguém. Ele era a minha referência. No meu primeiro curso de webwriting, foi FerVil que chamei para ministrar uma palestra. Ele estava de malas prontas para ir trabalhar em São Paulo, no iG, e me perguntou se eu achava que ele devia mesmo ir. “Fernando, sou suspeito”, disse. “Você só tem a acrescentar, em qualquer lugar”.

Nos reencontramos aqui, na Webinsider, e passamos mais de um ano – eu, ele o Vicente – querendo marcar um almoço que nunca saiu. Há pouco mais de um mês, ele reapareceu no meu curso, como aluno. Quando adentrou a sala, parei tudo, e, num misto de brincadeira e reverência, perguntei: “Você veio me dar aula, não é?”. FerVil ficou vermelho. “Só pode ser brincadeira, Fernando!”. Era - e não era. Ele queria se reaproximar do jornalismo online, do webwriting, do bom e velho mercado, após alguns anos trabalhando com conteúdo para telefonia celular. E queria entrar de cabeça no meio acadêmico. “Você sabe que deixou uma lacuna”, eu disse. “Os estudantes precisam de você”. Ele só sorriu.

Na noite desta segunda-feira, FerVil foi assassinado em uma tentativa de assalto, dentro do carro, ao sair do trabalho. Assim, de um jeito que não merece mais uma linha de explicação.

Realmente há algo mais a dizer?


Nota do editor: Fernando era das pessoas mais doces e inteligentes que conheci na vida. Um amigo muito querido e que tantas vezes me incentivou a ajudou a criar e manter o Webinsider e tantas outras coisas impossíveis de serem ditas (Vicente Tardin)