Reunião com Sociólogo - resumo
Resumo da reunião do grupo "Fervil Vive" feita em 15 de setembro com o sociólogo Paulo Jorge Ribeiro, professor de pós-graduação em Sociologia da PUC e especialista em Violência Urbana.
VIOLÊNCIA - DADOS
- É muito difícil obter dados confiáveis sobre violência; quase todas as fontes os manipulam segundo seus interesses.
– Os do DataSUS são os mais confiáveis, porém não traduzem a realidade.
VIOLËNCIA - CAUSAS
- A violência é um fenômeno multicausal. Geralmente um ato violento é decorrente de uma série de causas que se acumulam.
- Não há relação direta entre pobreza e violência. Desigualdade social é um fator que PODE incitar a violência, mas não é determinante. Este fato é comprovado se observarmos que:
1- Índia - neste país existe um desnível social em patamares mais elevados do que o Brasil, mas o índice de violência é baixo. Motivo? Lá a religião é extremamente forte, o que constitui um "freio moral" para o indivíduo.
2 - O número de trabalhadores honestos nas favelas é muito superior ao de bandidos.
3 - Os Estados Unidos têm índices de homicídios alarmantes.
VIOLÊNCIA – (DES)CONTROLE
- Dois fatores atuam no controle da violência: os limites morais do indivíduo e o monopólio da força pelo Estado.
- Os limites morais do indivíduo inibem a intenção de violência.
- O monopólio da força pelo Estado retira de forma legítima o direito ao uso da força das mãos dos seus integrantes e permite que as leis sejam cumpridas.
- A explosão de violência no Rio se deve, justamente, à terrível associação da falta de limites morais dos indivíduos com a incapacidade do Estado de exercer o monopólio da força.
VIOLÊNCIA - PERCEPÇÃO
- A violência pode ser traduzida para nós como uma "expectativa de insegurança", cuja percepção é fortemente influenciada pela experiência.
Explicando: após ter passado por uma experiência traumática, como um assalto ou a perda de um ente querido, sua percepção de insegurança será altíssima, mesmo que lhe sejam mostradas mil estatísticas apontando o contrário. E essa insegurança, esse medo, é uma das maiores violências que experimentamos pois abrimos mão da nossa liberdade em busca de proteção.- Além disso, o medo é um dos maiores geradores de violência.
DISCRIMINAÇÃO, FALTA DE OPORTUNIDADE E A SEDUÇÃO DO CRIME
- Embora teoricamente haja oportunidades para todos ascenderem de posição social, a distribuição de oportunidades é extremamente desigual em nossa sociedade. Um jovem morador de favela terá, em toda sua vida, menos de um décimo das oportunidades oferecidas a um jovem de classe média.
- A expectativa de carreira, para esse jovem, não é se tornar médico ou advogado, mas sim porteiro ou varredor de rua. E, apesar do que se pensa, é o que a maioria deles busca: um trabalho pouco reconhecido, mas honesto. Contudo, para alguém nessas condições, o crime apresenta uma tentação contínua e muito forte: uma arma na mão representa prestígio,dá segurança para quem tem baixa auto-estima; quem porta uma arma sente-se superpoderoso. Em alguns casos, pode ser um instrumento de conquista, de reconhecimento no grupo em que se vive. (Isto é muito bem retratado no filme “ Cidade de Deus”)
- Armas dão sensação de poder. Os homens/meninos sentem-se atraídos pelas armas por sentirem-se poderosos. As mulheres/meninas sentem-se seduzidas pela sensação de proteção e poder.
- Na maioria das vezes as crianças que não passaram pelo processo de socialização da sociedade, que foram categoricamente discriminadas, são os jovens armados de hoje. (Meninos de rua – 2 categorias discriminadas – meninos+ de rua).
LIBERDADE SEM RESPONSABILIDADE
- Costumamos pensar no absurdo que representa o desrespeito dos criminosos às leis da sociedade. "O que essas pessoas pensam?" - pensamos. Mas e se invertermos a pergunta: por que NÓS obedecemos? Simplesmente porque nós TEMOS o que perder. Eles não. Além de serem discriminados, estes criminosos aos dez anos de idade podiam ficar na rua quanto tempo quisessem, ir aonde quisessem, tinham acesso a sexo e drogas. Eles tiveram liberdade sem restrições.
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